EXPERIÊNCIA DE LEITURA: O LIVRO AMARELO DO TERMINAL

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É difícil escrever sobre um livro que pessoalmente conseguiu me agradar tanto, mas que sei que apresenta várias características que afastam sua leitura. Vanessa Barbara em seu segundo livro, conseguiu fazer um livro múltiplo e extremamente diferente.

A começar pela escolha do tema. É uma reportagem focada não em um protagonista e, sim, no maior terminal rodoviário da América Latina. A partir disto, várias histórias são contadas. Percorrem a página frequentadores assíduos, motoristas, burocratas, figuras históricas, funcionários, vendedores, anônimos, e a própria narradora.

A narração é complementada ou interrompida por poemas, citações, recortes de jornais, folhetos, etc. Tudo isto ajudando a criar o clima de caos organizado que se encontra no Terminal Tietê.

Além disto o projeto gráfico do livro não é algo a parte. Ele é um elemento importante para a comunicação dos relatos que estão sendo narrados.

A autora é muito competente em apresentar o relato que ela coletou (foram 12 meses só de pesquisa e quase cinco anos até o termino) no momento certo dando coerência mas não tirando totalmente o sentimento de desorganização que se vê em locais muito aglomerados.

O livro apresenta desde uma narração de um incidente envolvendo velhos amigos que se conhecem a tanto tempo que já esqueceram o nome do outro e só sabem o apelido até a historia completa da politica envolvida na construção e manutenção do próprio terminal (usando para isto reportagens de época). Em suma é como um banquete de histórias em que são servidas as mais diversas iguarias para que o próprio leitor possa decidir o que lhe agrada mais.

Eu pessoalmente devo dizer que adorei os capítulos onde a própria Vanessa Barbara é personagem e é contado a interferência da burocracia no trabalho, demonstrando assim como este sistema é estúpido e ineficiente. Outro capitulo interessante é dedicado aos folhetos achados na estação pois dá a ideia da cacofonia cotidiana que lá se encontra.

Um livro belo em vários sentidos que dá ao leitor experiente um sopro de novidade e interesse, mas que depende muito de como o leitor o encara. Exige que haja imersão e imaginação para completar os pedaços de historia que estão escritos. Ou seja, como na vida em que o interesse é que determina quais são narrativas que vai gostar de ouvir.

Rui Carodi.

PS. A foto do livro foi retirada do blog da editora, deste post:  http://editora.cosacnaify.com.br/blog/?p=14646

Experiência de Leitura: Como Me Tornei Estúpido de Martin Page

Como Me Tornei Estúpido Martin Page

Como Me Tornei Estúpido
Martin Page

         É fácil simpatizar com Antoine, Protagonista de “Como Me Tornei Estúpido” do autor Martin Page. Ele é um jovem de 25 anos, inteligente e excêntrico, que ainda visita o mesmo medico pediatra de quando era criança e (em uma cena) é carregado no colo por um amigo (talvez a forma do autor de demonstrar que ele é imaturo). Ele tem conhecimentos inúteis em grande quantidade e vários que o leitor também terá, ou ao menos reconhecerá como comuns aos que se dizem intelectuais. Ou seja, ele é um desses personagens relativamente comuns em sitcoms, que poderia ser descrito como gênio deslocado. Até mesmo, sua decisão de eliminar a inteligência, porque esta lhe esta trazendo mais problemas que satisfações, não soará estranha. Ele é um personagem que é agradável de gostar, e isto pode ser um grande problema.

      Este problema não esta nas situações surreais que ele enfrentará por sua decisão. Quando tentará se tornar alcoólatra, quando tentará ingressar num clube de suicidas, quando tentará usar pílulas ou quando tentará ter sucesso no mercado de ações, todas estas situações são engraçadas e lhe fará encontrar personagens muito interessantes e, em sua maioria, cínicos, os quais tornam a representação do mundo real bem evidente. E não chega nem a ser totalmente previsível o desenrolar dos capítulos, visto que em alguns ele consegue o sucesso, ou o fracasso relativo, ou a decepção plena.

         O problema também não esta no desenvolvimento rápido da história e no seu final apressado. Se imaginarmos que no início desta novela, Antoine não poderia considerar a outras pessoas como iguais, o fato de só perceber outra personagem tão excêntrica quanto ele, e começar um relacionamento chega a ser uma decisão boa para demonstrar seu desenvolvimento, embora ainda pareça tão corrido quanto uma sitcom. O autor queria fazer um livro leve, rápido e divertido. Conseguiu com êxito.

         O problema esta no leitor não perceber que aquele agradável personagem é estúpido desde a primeira linha do livro. E, não percebendo isto, não notar que Antoine é uma representação de si próprio, do tipo comum de nossos dias, que foi educado para se achar especial, em um lugar em que ser especial é doloroso.

Rui Carodi

Clube da Leitura

Nesta quarta você terá a oportunidade de compartilhar comentários e impressões sobre aquele livro que você leu e adorou. O Clube da Leitura marcou mais um encontro e desta vez não definiu autor nem título. Cada leitor poderá falar sobre o romance que tiver vontade. Venha passar momentos agradáveis e conversar sobre livros e leitura. Não é necessário fazer inscrição.
Data: 07/12/2011
Horário: 17h às 18h
Local: Auditório da Biblioteca